Memória e Futuro: <br>Cuba e Fidel
O octogésimo aniversário de Fidel Castro foi assinalado, em Havana, por um vasto e significativo conjunto de iniciativas que, durante uma semana, integraram a agenda política, cultural e artística cubana.
A convite da Fundação Guayasamín, promotora da comemoração, cerca de mil e quinhentas pessoas, provenientes de mais de oitenta países, participaram nas diversas iniciativas. Eram homens, mulheres e jovens – intelectuais, artistas, Chefes de Estado e de Governo, cidadãos anónimos – que com a sua presença e participação expressavam a admiração e a amizade que os une a essa figura maior do movimento revolucionário mundial que é Fidel Castro. A esses, juntaram-se milhares de cubanos que assim quiseram participar no «abraço a Fidel», na saudação fraterna e carinhosa ao seu Comandante en Chefe.
Fidel não esteve presente. Por razões de saúde. Na mensagem que enviou e que foi lida na sessão de abertura explicava o «dilema» que se lhe colocava: «não podia reunir-vos num local pequeno, só no teatro Karl Marx cabiam todos os visitantes, e eu não estava em condições, segundo os médicos, de enfrentar tão colossal encontro».
Todavia, e como era inevitável, a figura, o exemplo, o pensamento de Fidel estiveram presentes em todos os debates realizados, em todos os espectáculos, em todos os momentos de confraternização solidária: no já referido teatro Karl Marx; na Tribuna Anti-imperialista, onde teve lugar um memorável espectáculo com a participação de músicos e cantores de toda a América Latina; nas salas do Palácio das Convenções, onde decorreu o Colóquio «Memória e Futuro: Cuba e Fidel». E em todos estes espaços foram temas de debate não apenas a memória e o futuro, Cuba e Fidel, mas também, como não podia deixar de ser, a América Latina e o mundo.
Moncada – um ponto de partida
Sublinhou-se o significado do 26 de Julho de 1953, do assalto a Moncada, uma tentativa derrotada, mas nem por isso inútil, bem pelo contrário: a demonstrar que a luta dos que têm como objectivo transformar o mundo é difícil, complexa e feita de derrotas e de vitórias, e que há derrotas que, pelas circunstâncias em que ocorrem e pelos ensinamentos que trazem, constituem pontos de partida indispensáveis para as vitórias futuras – como se vê na célebre defesa de Fidel perante os juízes fascistas («a história me absolverá»), uma das mais belas proclamações do direito à rebeldia alguma vez produzidas.
Recordou-se a histórica viagem do iate Granma, espécie de casca de noz onde, em 30 de Novembro de 1956, se instalaram 82 homens que dois dias depois desembarcariam em Cuba e iniciariam a luta de guerrilhas que viria a derrotar um exército apoiado pelos Estados Unidos da América e que contava com mais de 80 000 homens – ou seja, 1000 para cada um dos revolucionários desembarcados do Granma.
Lembrou-se a vitória da Revolução, consumada no primeiro dia do ano de 1959, e todos os ataques de que foi alvo ao longo dos anos por parte dos sucessivos governos dos Estados Unidos da América – os actos terroristas contra bens, equipamentos, e pessoas, traduzidos nomeadamente na perda de mais de 3500 vidas humanas; a destruição de colheitas; as tentativas de assassinato de Fidel; as tentativas de invasão de Cuba; o criminoso bloqueio que há mais de quatro décadas tenta liquidar a revolução cubana; a intensa e feroz campanha mediática que, recorrendo às mais grosseiras provocações, mentiras e calúnias, é suporte essencial de todas as linhas da ofensiva imperialista contra a revolução cubana; enfim, o vale-tudo que caracteriza a prática do imperialismo norte-americano nas suas ofensivas contra os países e povos que persistem na defesa da sua soberania e independência e se recusam a enfileirar no rebanho dos fiéis cumpridores das ordens emanadas dos bush´s de todas as épocas.
Um exemplo de resistência
Acentuada foi a importância decisiva da resistência vitoriosa da revolução cubana face à ofensiva de novo tipo desencadeada após o desaparecimento da União Soviética na sequência da derrota da tentativa de construção do socialismo levada a cabo naquele país – nesse tempo particularmente difícil para todos os partidos comunistas e demais forças progressistas do mundo; nesse tempo que levou a uma grave fragilização do movimento comunista internacional com o desaparecimento ou a descaracterização de vários partidos comunistas (mas, sublinhe-se, também um tempo em que muitos outros partidos resistiram e assumiram e reafirmaram a sua identidade); nesse tempo em que os coveiros de serviço proclamavam o fim do comunismo e a vitória definitiva do capitalismo e decretavam o desaparecimento de Cuba socialista - «é uma questão de dias»: vaticinavam uns; «é uma questão de semanas»: prognosticavam outros; «é uma questão de meses»: garantiam terceiros – nesse tempo particularmente difícil à escala planetária, nesse tempo semeado de perigos e de armadilhas, nesse tempo de muitos desânimos e deserções, a revolução cubana tornou possível o que fora anunciado como impossível: proclamou a resistência, resistiu e venceu. E com essa vitória, levou a esperança e a confiança a milhões de homens e mulheres em todo o Planeta; foi um incentivo à continuação da luta e à importância de lutar seja qual for a situação que se nos depare; e afirmou-se como referência marcante e essencial à escala planetária.
Abordou-se aprofundadamente a questão da solidariedade internacionalista da revolução cubana – solidariedade com as lutas de todos os povos do mundo, solidariedade com os povos e países da América Latina e com os processos progressistas e revolucionários em curso em vários desses países; solidariedade que, ao longo do tempo, tem assumido as mais diversificadas expressões: em Angola, traduzida no envio dos heróicos militares cubanos que ali desempenharam um papel decisivo na derrota da ofensiva vinda da então África do Sul do apartheid, em conivência com o imperialismo norte-americano e com os fantoches da Unita; solidariedade em muitos outros países, traduzida no envio de dezenas de milhares de médicos e professores cubanos que, revolucionariamente, aí desenvolvem uma acção de elevado conteúdo civilizacional, levando os cuidados de saúde a milhões de pessoas que jamais haviam visto um médico, ensinando a ler milhões de analfabetos.
Solidariedade internacionalista
Realçou-se, essencialmente, a heróica resistência da revolução, do povo e do partido cubanos face à brutal e sistemática ofensiva de que é alvo. Uma resistência a demonstrar que «sim, é possível resistir» - que, quando assumimos os valores, os princípios, os ideais, a coragem, a dignidade que enformam o projecto de sociedade socialista, logo liberta de todas as formas de opressão e de exploração, é possível resistir com êxito mesmo defrontando um inimigo poderoso e sem escrúpulos.
Por tudo isso, Cuba é um exemplo intolerável para o imperialismo norte-americano. A lúcida, persistente e corajosa resistência do povo cubano não cabe nos projectos e nas perspectivas dos Estados Unidos da América, habituados a vergar pela opressão e pela repressão todos os que ousem desafiar os seus interesses.
Mas é igualmente por tudo isso que Cuba, ao mesmo tempo que leva a sua solidariedade internacionalista a todo o lado onde as suas possibilidades o permitem (muitas vezes, mais do que as suas possibilidades o permitem, registe-se) é igualmente alvo da solidariedade fraterna e activa de milhões de homens e mulheres de todas as partes do mundo.
Portadores dessa solidariedade estiveram ali, em Havana – idos da Europa, da Ásia, da África, de todo o continente americano – nas pessoas de representantes de inúmeras associações de amizade com Cuba, numa homenagem sentida ao povo cubano, à revolução cubana, ao Comandante en Chefe Fidel Castro.
Portadores dessa solidariedade foram também os muitos intelectuais, artistas, escritores, poetas, músicos, dramaturgos, cineastas, actores, que ali expressaram o seu apoio à revolução cubana, a sua homenagem à coragem e determinação do povo cubano, a sua admiração e amizade por Fidel.
América Latina em mudança
Presentes estiveram também diversos governantes de diversos países da região, nomeadamente e entre outros: Evo Morales, Presidente da Bolívia, que ali foi sublinhar o papel inspirador de Cuba e de Fidel na luta do povo boliviano, dos povos da América Latina e do mundo; Daniel Ortega, Presidente da Nicarágua que, num simbolismo cheio de significado, ofereceu a Fidel, como prenda de aniversário, a sua vitória recente nas eleições nicaraguenses; Nicolás Maduro, Ministro dos negócios Estrangeiros da Venezuela que trouxe a Fidel o abraço e a solidariedade do Presidente Hugo Chavéz e da revolução bolivariana.
Pode dizer-se, assim, que as comemorações do aniversário de Fidel decorreram num ambiente carregado de futuro e que é demonstrativo da situação hoje existente na América Latina. Curiosamente, as comemorações iniciaram-se imediatamente a seguir à importante eleição de Rafael Correia para Presidente do Equador e encerraram com a notícia da histórica vitória de Hugo Chavéz nas eleições venezuelanas. No intervalo entre a abertura e o encerramento das comemorações chegavam notícias e imagens sobre os impressionantes avanços do processo venezuelano de construção do socialismo – os notáveis sucessos no combate à fome e à miséria, no estabelecimento de um amplo serviço de saúde pública, na erradicação total do analfabetismo, na construção de redes de transportes visando assegurar a deslocação cómoda e rápida dos trabalhadores e das populações, no combate ao desemprego, enfim, no respeito pelos direitos e interesses dos trabalhadores, do povo e da Pátria; chegavam imagens das poderosas manifestações de massas de apoio à candidatura de Hugo Chavéz, dos rostos alegres e felizes de centenas e centenas de milhares de homens, mulheres e jovens, cheios daquela alegria e daquela felicidade só existentes em quem se sente protagonista e participante activo da história do seu País e, por isso, vê os seus direitos e anseios começarem a ser respeitados e concretizados.
Revolução é unidade
Fidel é um daqueles revolucionários dos quais podemos dizer que, sem ele, sem o seu exemplo e a sua prática revolucionária, a história teria sido diferente – e não apenas no caso concreto da história da Revolução Cubana. Desempenhando um papel decisivo em todo o processo revolucionário cubano desde Moncada até aos dias de hoje, ele é, também e por isso mesmo, uma referência, um estímulo, uma fonte de inspiração para os revolucionários de todo o mundo e, de forma muito particular, para os da América Latina. Os processos actualmente em curso na Venezuela, na Bolívia, no Equador, na Nicarágua e em muitos outros países daquela região – cada um seguindo rumos com as suas características próprias, com os seus objectivos específicos – são indissociáveis da experiência da revolução cubana na perspectiva de Fidel: «Revolução é sentido do momento histórico; é mudar tudo o que deve ser mudado; é igualdade e liberdade plenas; é ser tratado e tratar os demais como seres humanos; é emanciparmo-nos com os nossos próprios esforços; é desafiar as poderosas forças dominantes dentro e fora do âmbito social e nacional; é defender valores nos quais se crê seja qual for o sacrifício necessário; é modéstia, desinteresse, altruísmo, solidariedade e heroísmo; é lutar com audácia, inteligência e realismo; é não mentir jamais, nem violar princípios éticos; é convicção profunda de que não existe força no mundo capaz de esmagar a força da verdade e das ideias. Revolução é unidade, é independência, é lutar pelos nossos sonhos de justiça para Cuba e para o mundo, que é a base do nosso patriotismo, do nosso socialismo e do nosso internacionalismo.»
Ao fim e ao cabo aquilo que o Presidente Hugo Chavéz escreveu na mensagem enviada a Fidel: «A grandeza da revolução cubana pertence-nos a todos. Pai, irmão, amigo, companheiro, camarada, hasta la victoria siempre».
Cuba vencerá!
Coincidindo com o encerramento da homenagem a Fidel, comemorou-se em Havana o 50º aniversário do desembarque do Granma. O desfile das Forças Armadas Revolucionárias, considerado o maior realizado em Cuba até hoje, antecedeu a gigantesca manifestação popular com centenas de milhares de pessoas empunhando bandeiras de Cuba e cartazes alusivos à data, à Forças Armadas Revolucionárias, à Revolução, a Fidel, a Raul – cartazes feitos pelas organizações do Partido na cidade de Havana e cartazes feitos em casa e expressando o sentir de quem os fez: «Viva Fidel», «Viva Raúl», «Viva a Revolução», «Viva o Partido».
Discursando na Praça da Revolução, Raúl Castro expressou «mais uma vez a nossa disposição de resolver na mesa de negociações o prolongado diferendo entre os Estados Unidos e Cuba (…) na base dos princípios de igualdade, de reciprocidade, de não ingerência e de respeito mútuo.» e sublinhou: «Preservaremos custe o que custar a liberdade do povo cubano e a independência e soberania da Pátria.»
O povo de Cuba e a sua revolução vivem – continuam a viver – momentos difíceis. Essas dificuldades são essencialmente consequência da ofensiva constante do imperialismo norte-americano. Contudo, a determinação de resistir a essa ofensiva e de continuar a superar as suas consequências negativas, é, sem dúvida, o dado mais relevante da situação cubana actual. Foi isso que transpareceu das comemorações do 80º aniversário de Fidel Castro e do 50º aniversário das Forças Armadas Revolucionárias: Cuba vencerá.
Fidel não esteve presente. Por razões de saúde. Na mensagem que enviou e que foi lida na sessão de abertura explicava o «dilema» que se lhe colocava: «não podia reunir-vos num local pequeno, só no teatro Karl Marx cabiam todos os visitantes, e eu não estava em condições, segundo os médicos, de enfrentar tão colossal encontro».
Todavia, e como era inevitável, a figura, o exemplo, o pensamento de Fidel estiveram presentes em todos os debates realizados, em todos os espectáculos, em todos os momentos de confraternização solidária: no já referido teatro Karl Marx; na Tribuna Anti-imperialista, onde teve lugar um memorável espectáculo com a participação de músicos e cantores de toda a América Latina; nas salas do Palácio das Convenções, onde decorreu o Colóquio «Memória e Futuro: Cuba e Fidel». E em todos estes espaços foram temas de debate não apenas a memória e o futuro, Cuba e Fidel, mas também, como não podia deixar de ser, a América Latina e o mundo.
Moncada – um ponto de partida
Sublinhou-se o significado do 26 de Julho de 1953, do assalto a Moncada, uma tentativa derrotada, mas nem por isso inútil, bem pelo contrário: a demonstrar que a luta dos que têm como objectivo transformar o mundo é difícil, complexa e feita de derrotas e de vitórias, e que há derrotas que, pelas circunstâncias em que ocorrem e pelos ensinamentos que trazem, constituem pontos de partida indispensáveis para as vitórias futuras – como se vê na célebre defesa de Fidel perante os juízes fascistas («a história me absolverá»), uma das mais belas proclamações do direito à rebeldia alguma vez produzidas.
Recordou-se a histórica viagem do iate Granma, espécie de casca de noz onde, em 30 de Novembro de 1956, se instalaram 82 homens que dois dias depois desembarcariam em Cuba e iniciariam a luta de guerrilhas que viria a derrotar um exército apoiado pelos Estados Unidos da América e que contava com mais de 80 000 homens – ou seja, 1000 para cada um dos revolucionários desembarcados do Granma.
Lembrou-se a vitória da Revolução, consumada no primeiro dia do ano de 1959, e todos os ataques de que foi alvo ao longo dos anos por parte dos sucessivos governos dos Estados Unidos da América – os actos terroristas contra bens, equipamentos, e pessoas, traduzidos nomeadamente na perda de mais de 3500 vidas humanas; a destruição de colheitas; as tentativas de assassinato de Fidel; as tentativas de invasão de Cuba; o criminoso bloqueio que há mais de quatro décadas tenta liquidar a revolução cubana; a intensa e feroz campanha mediática que, recorrendo às mais grosseiras provocações, mentiras e calúnias, é suporte essencial de todas as linhas da ofensiva imperialista contra a revolução cubana; enfim, o vale-tudo que caracteriza a prática do imperialismo norte-americano nas suas ofensivas contra os países e povos que persistem na defesa da sua soberania e independência e se recusam a enfileirar no rebanho dos fiéis cumpridores das ordens emanadas dos bush´s de todas as épocas.
Um exemplo de resistência
Acentuada foi a importância decisiva da resistência vitoriosa da revolução cubana face à ofensiva de novo tipo desencadeada após o desaparecimento da União Soviética na sequência da derrota da tentativa de construção do socialismo levada a cabo naquele país – nesse tempo particularmente difícil para todos os partidos comunistas e demais forças progressistas do mundo; nesse tempo que levou a uma grave fragilização do movimento comunista internacional com o desaparecimento ou a descaracterização de vários partidos comunistas (mas, sublinhe-se, também um tempo em que muitos outros partidos resistiram e assumiram e reafirmaram a sua identidade); nesse tempo em que os coveiros de serviço proclamavam o fim do comunismo e a vitória definitiva do capitalismo e decretavam o desaparecimento de Cuba socialista - «é uma questão de dias»: vaticinavam uns; «é uma questão de semanas»: prognosticavam outros; «é uma questão de meses»: garantiam terceiros – nesse tempo particularmente difícil à escala planetária, nesse tempo semeado de perigos e de armadilhas, nesse tempo de muitos desânimos e deserções, a revolução cubana tornou possível o que fora anunciado como impossível: proclamou a resistência, resistiu e venceu. E com essa vitória, levou a esperança e a confiança a milhões de homens e mulheres em todo o Planeta; foi um incentivo à continuação da luta e à importância de lutar seja qual for a situação que se nos depare; e afirmou-se como referência marcante e essencial à escala planetária.
Abordou-se aprofundadamente a questão da solidariedade internacionalista da revolução cubana – solidariedade com as lutas de todos os povos do mundo, solidariedade com os povos e países da América Latina e com os processos progressistas e revolucionários em curso em vários desses países; solidariedade que, ao longo do tempo, tem assumido as mais diversificadas expressões: em Angola, traduzida no envio dos heróicos militares cubanos que ali desempenharam um papel decisivo na derrota da ofensiva vinda da então África do Sul do apartheid, em conivência com o imperialismo norte-americano e com os fantoches da Unita; solidariedade em muitos outros países, traduzida no envio de dezenas de milhares de médicos e professores cubanos que, revolucionariamente, aí desenvolvem uma acção de elevado conteúdo civilizacional, levando os cuidados de saúde a milhões de pessoas que jamais haviam visto um médico, ensinando a ler milhões de analfabetos.
Solidariedade internacionalista
Realçou-se, essencialmente, a heróica resistência da revolução, do povo e do partido cubanos face à brutal e sistemática ofensiva de que é alvo. Uma resistência a demonstrar que «sim, é possível resistir» - que, quando assumimos os valores, os princípios, os ideais, a coragem, a dignidade que enformam o projecto de sociedade socialista, logo liberta de todas as formas de opressão e de exploração, é possível resistir com êxito mesmo defrontando um inimigo poderoso e sem escrúpulos.
Por tudo isso, Cuba é um exemplo intolerável para o imperialismo norte-americano. A lúcida, persistente e corajosa resistência do povo cubano não cabe nos projectos e nas perspectivas dos Estados Unidos da América, habituados a vergar pela opressão e pela repressão todos os que ousem desafiar os seus interesses.
Mas é igualmente por tudo isso que Cuba, ao mesmo tempo que leva a sua solidariedade internacionalista a todo o lado onde as suas possibilidades o permitem (muitas vezes, mais do que as suas possibilidades o permitem, registe-se) é igualmente alvo da solidariedade fraterna e activa de milhões de homens e mulheres de todas as partes do mundo.
Portadores dessa solidariedade estiveram ali, em Havana – idos da Europa, da Ásia, da África, de todo o continente americano – nas pessoas de representantes de inúmeras associações de amizade com Cuba, numa homenagem sentida ao povo cubano, à revolução cubana, ao Comandante en Chefe Fidel Castro.
Portadores dessa solidariedade foram também os muitos intelectuais, artistas, escritores, poetas, músicos, dramaturgos, cineastas, actores, que ali expressaram o seu apoio à revolução cubana, a sua homenagem à coragem e determinação do povo cubano, a sua admiração e amizade por Fidel.
América Latina em mudança
Presentes estiveram também diversos governantes de diversos países da região, nomeadamente e entre outros: Evo Morales, Presidente da Bolívia, que ali foi sublinhar o papel inspirador de Cuba e de Fidel na luta do povo boliviano, dos povos da América Latina e do mundo; Daniel Ortega, Presidente da Nicarágua que, num simbolismo cheio de significado, ofereceu a Fidel, como prenda de aniversário, a sua vitória recente nas eleições nicaraguenses; Nicolás Maduro, Ministro dos negócios Estrangeiros da Venezuela que trouxe a Fidel o abraço e a solidariedade do Presidente Hugo Chavéz e da revolução bolivariana.
Pode dizer-se, assim, que as comemorações do aniversário de Fidel decorreram num ambiente carregado de futuro e que é demonstrativo da situação hoje existente na América Latina. Curiosamente, as comemorações iniciaram-se imediatamente a seguir à importante eleição de Rafael Correia para Presidente do Equador e encerraram com a notícia da histórica vitória de Hugo Chavéz nas eleições venezuelanas. No intervalo entre a abertura e o encerramento das comemorações chegavam notícias e imagens sobre os impressionantes avanços do processo venezuelano de construção do socialismo – os notáveis sucessos no combate à fome e à miséria, no estabelecimento de um amplo serviço de saúde pública, na erradicação total do analfabetismo, na construção de redes de transportes visando assegurar a deslocação cómoda e rápida dos trabalhadores e das populações, no combate ao desemprego, enfim, no respeito pelos direitos e interesses dos trabalhadores, do povo e da Pátria; chegavam imagens das poderosas manifestações de massas de apoio à candidatura de Hugo Chavéz, dos rostos alegres e felizes de centenas e centenas de milhares de homens, mulheres e jovens, cheios daquela alegria e daquela felicidade só existentes em quem se sente protagonista e participante activo da história do seu País e, por isso, vê os seus direitos e anseios começarem a ser respeitados e concretizados.
Revolução é unidade
Fidel é um daqueles revolucionários dos quais podemos dizer que, sem ele, sem o seu exemplo e a sua prática revolucionária, a história teria sido diferente – e não apenas no caso concreto da história da Revolução Cubana. Desempenhando um papel decisivo em todo o processo revolucionário cubano desde Moncada até aos dias de hoje, ele é, também e por isso mesmo, uma referência, um estímulo, uma fonte de inspiração para os revolucionários de todo o mundo e, de forma muito particular, para os da América Latina. Os processos actualmente em curso na Venezuela, na Bolívia, no Equador, na Nicarágua e em muitos outros países daquela região – cada um seguindo rumos com as suas características próprias, com os seus objectivos específicos – são indissociáveis da experiência da revolução cubana na perspectiva de Fidel: «Revolução é sentido do momento histórico; é mudar tudo o que deve ser mudado; é igualdade e liberdade plenas; é ser tratado e tratar os demais como seres humanos; é emanciparmo-nos com os nossos próprios esforços; é desafiar as poderosas forças dominantes dentro e fora do âmbito social e nacional; é defender valores nos quais se crê seja qual for o sacrifício necessário; é modéstia, desinteresse, altruísmo, solidariedade e heroísmo; é lutar com audácia, inteligência e realismo; é não mentir jamais, nem violar princípios éticos; é convicção profunda de que não existe força no mundo capaz de esmagar a força da verdade e das ideias. Revolução é unidade, é independência, é lutar pelos nossos sonhos de justiça para Cuba e para o mundo, que é a base do nosso patriotismo, do nosso socialismo e do nosso internacionalismo.»
Ao fim e ao cabo aquilo que o Presidente Hugo Chavéz escreveu na mensagem enviada a Fidel: «A grandeza da revolução cubana pertence-nos a todos. Pai, irmão, amigo, companheiro, camarada, hasta la victoria siempre».
Cuba vencerá!
Coincidindo com o encerramento da homenagem a Fidel, comemorou-se em Havana o 50º aniversário do desembarque do Granma. O desfile das Forças Armadas Revolucionárias, considerado o maior realizado em Cuba até hoje, antecedeu a gigantesca manifestação popular com centenas de milhares de pessoas empunhando bandeiras de Cuba e cartazes alusivos à data, à Forças Armadas Revolucionárias, à Revolução, a Fidel, a Raul – cartazes feitos pelas organizações do Partido na cidade de Havana e cartazes feitos em casa e expressando o sentir de quem os fez: «Viva Fidel», «Viva Raúl», «Viva a Revolução», «Viva o Partido».
Discursando na Praça da Revolução, Raúl Castro expressou «mais uma vez a nossa disposição de resolver na mesa de negociações o prolongado diferendo entre os Estados Unidos e Cuba (…) na base dos princípios de igualdade, de reciprocidade, de não ingerência e de respeito mútuo.» e sublinhou: «Preservaremos custe o que custar a liberdade do povo cubano e a independência e soberania da Pátria.»
O povo de Cuba e a sua revolução vivem – continuam a viver – momentos difíceis. Essas dificuldades são essencialmente consequência da ofensiva constante do imperialismo norte-americano. Contudo, a determinação de resistir a essa ofensiva e de continuar a superar as suas consequências negativas, é, sem dúvida, o dado mais relevante da situação cubana actual. Foi isso que transpareceu das comemorações do 80º aniversário de Fidel Castro e do 50º aniversário das Forças Armadas Revolucionárias: Cuba vencerá.